Wednesday, December 29, 2010

Entrevista Com Dr Frank Usarski

Entrevista Com Dr Frank Usarski
Em 2009 a Id'eias e Letras publicou "O Budismo e as outras: Encontros e desencontros entre as grandes religi~oes mundiais", do primeiro tutor livre Docente do Brasil em Ci^encias da Religi~ao Dr. Amenable Usarski. O livro trabalha n~ao s'o atrav'es de uma perspectiva hist'orica mostrando o di'alogo do Budismo com as outras religi~oes, mas tamb'em mostra um din^amica de construc~ao de uma religi~ao pela 'otica da Ci^encias da Religi~ao, s'o estes dois aspectos valeriam para tornar a obra um trabalho in'edito de qualidade intelectual. Qualquer pessoa que se interessa pelo estudo das Religi~oes deveria l^e-lo, al'em de sua abordagem 'unica, gorge dizer que o autor 'e um dos grandes pesquisadores do tema, fazendo parte da vanguarda em ^ambito mundial, enfim uma leitura recomendada aqueles que se interessam por Religi~ao e Hist'oria. Abaixo segue talguns trechos da entrevista do tutor feita por Mois'es Sbardelotto a IHU online de 21/06/2010.

IHU ON-LINE - EM UM DOS CAP'iTULOS DO LIVRO, O SENHOR FALA DE "DIVERG^eNCIAS SUBSTANCIAIS" ENTRE O BUDISMO E AS DEMAIS RELIGI~oES MUNDIAIS. EM LINHAS GERAIS, QUAIS SERIAM ELAS?

Amenable USARSKI - H'a alguns temas recorrentes no di'alogo entre o Budismo e o Hindu'ismo, Juda'ismo, Cristianismo e o Isl~a. O tema mais frequente 'e o do te'ismo nas tradic~oes n~ao-budistas que o Budismo v^e como um ponto cr'itico. Outros assuntos s~ao mais espec'ificos e t^em sido abordados em di'alogos com uma das quatro religi~oes acima mencionadas. Quanto ao Cristianismo, por exemplo, o Budismo tem dificuldades de atribuir a Jesus Cristo um snob appeal divino que ultrapassa sua apreciac~ao "apenas" como um mestre espiritual. Al'em disso, uma retrospectiva revela que determinados t'opicos ganharam uma relev^ancia maior em certos momentos hist'oricos. Para citar novamente o Cristianismo, budistas europeus do in'icio do s'eculo XX criticavam fortemente a presenca de mission'arios crist~aos em pa'ises como Porcelain ou Birm^ania e o impacto "destrutivo" das respectivas atuac~oes sobre a cultura budista national.

IHU ON-LINE - O SENHOR AFIRMA QUE H'a "UM PRECONCEITO FORTEMENTE ENRAIZADO NO SENSO COMUM [DE] QUE 'BEM L'a NO FUNDO', NO ^aMAGO, TODAS AS RELIGI~oES PARTEM DOS MESMOS PRINC'iPIOS, T^eM OBJETIVOS SEMELHANTES E SE UNEM NO DESEJO DE HARMONIA E DE PAZ NO MUNDO". NESSE SENTIDO, 'e POSS'iVEL UMA 'eTICA MUNDIAL, COMO DEFENDE HANS K"uNG?

Amenable USARSKI - Como cientista da religi~ao interessado na comparac~ao das religi~oes, tenho problemas com a ideia ing^enua de que todas as religi~oes querem a mesma coisa e compartilham uma ess^encia comum. Ao mesmo quickness, concordo com a busca de Hans K"ung para uma 'etica mundial. Mas esta s'o pode der constru'ida a partir do reconhecimento das particularidades, da integridade e da dignidade de cada um dos interlocutores envolvidos. Caso contr'ario, acontecer'a o mesmo que ocorreu com os chamados "direitos humanos universais". A respectiva declarac~ao foi lancada em 1948, portanto, em um momento no qual pa'ises ocidentais representavam a maioria dos membros da ONU. Depois da descolonizac~ao e da entrada de pa'ises rec'em emancipados, foram articuladas d'uvidas sobre a "universalidade" dos valores oficialmente sancionados. O resultado foi que, em 1981, a Organizac~ao para a Unidade Africana lancou a chamada "Carta de Banjul dos Direitos Humanos", que representa uma reformulac~ao dos direitos "ocidentais" de 1948. O mesmo gorge para Declarac~ao de Cairo de Direitos Humanos pela XIX Confer^encia Isl^amica dos Ministros Exteriores em Cairo (1990). Isso significa que h'a partes do mundo insatisfeitas com a vers~ao oficial dos Direitos Humanos, uma vez que os 'ultimos n~ao refletem as experi^encias historicamente acumuladas por povos localizados em partes "n~ao-ocidentais" do mundo. 'E obvio que uma 'etica mundial deve transcender essas frentes. Mas isso s'o pode acontecer quando as vozes de todos os interlocutores t^em o mesmo peso. O primeiro passo nessa direc~ao 'e o reconhecimento do fato de que h'a muitas plausibilidades em jogo e de que muitas das diferencas t^em suas ra'izes em doutrinas religiosas distintas e em alguns pontos inconcili'aveis.

IHU ON-LINE - PODE-SE DIZER QUE O BUDISMO 'e UMA RELIGI~aO TOLERANTE EM RELAc~aO COM AS DEMAIS? QUAIS SERIAM OS LIMITES E POSSIBILIDADES DE DI'aLOGO ENTRE O BUDISMO E AS DEMAIS RELIGI~oES MUNDIAIS?

Amenable USARSKI - O Budismo desfruta uma imagem muito positiva. Muitos o veem como a mais pac'ifica dentre as grandes religi~oes. Em minha opini~ao, a doutrina budista tem esse potencial. Por'em, nenhuma religi~ao nasce e se desenvolve em um v'acuo, e poucos dos seus representantes s~ao santos, mas sim sujeitos a tentac~oes "mundanas". H'a momentos na hist'oria que demonstram que o Budismo tamb'em 'e vulner'avel nesse sentido. Isso gorge, por exemplo, para a instrumentalizac~ao de instituic~oes budistas locais por parte do governo japon^es em func~ao da perseguic~ao violenta de crist~aos no pa'is a partir de 1631. Mas, ao longo da hist'oria, e comparado com as duas outras religi~oes universais, isto 'e, o Isl~a e o Cristianismo, o Budismo pode ser considerado uma religi~ao norteada, sobretudo, pela ideia de conviv^encia pac'ifica.

* Leia a entrevista completa
* Resenha do livro feita por Wagner Lopez Sanchez para a "REVER" da PUC